O som dos tambores, casacas e cantos tradicionais do congo passaram por diversas gerações da família Machado e seus amigos. A centenária Banda de Congo Mãe Petronilha, de Araçatiba, se mantém inabalável com o passar dos anos como uma herança preservada por seus guardiões.
“É muito emocionante falar do congo. Há mais de 25 anos decidimos reacender a chama do ritmo dentro da nossa comunidade. Atualmente, após muita luta, vencemos e tenho orgulho de onde chegamos”, comentou Ademir Gonçalves.
A banda mais antiga do município, a Mãe Petronilha, foi fundada há quase 100 anos e hoje leva o nome da avó do seu Ailson, guardião do grupo. O ancião fez o resgate do grupo e mantém viva a tradição da comunidade.
“Sempre tive a consciência de que nunca ia conseguir fazer nada sozinho. Quando minha avó morreu, a alma do congo adormeceu em nossa região. Com a ajuda de nossos queridos amigos, resgatamos essa cultura que sempre nos fez feliz. Em homenagem a ela, demos o nome de minha avó ao nosso grupo, Petronilha”, completou Ailson Machado, de 75 anos.
Criada pelos povos africanos vindo para o Brasil, o congo é um movimento cultural tradicional no município de Viana. Conta-se que na época dos grandes fazendeiros, os escravizados aproveitavam os barris vazios, colocavam um pedaço de couro e tocavam durante a noite e em datas comemorativas para as mulheres.
O congo também é devoção: as músicas relembram as histórias e as vitórias dos músicos e dos povos negros com o auxílio das divindades. Ademir sempre exalta São Benedito em sua cantoria, inclusive, a sua imagem está estampada na camisa da banda. Seu Ailson está sempre conectado à Nossa Senhora d’Ajuda, padroeira da comunidade.
Outro instrumento de percussão muito característico, a casaca foi inserida durante as congadas. A peça é cilíndrica e tem uma cabeça humana esculpida na ponta, que representa o fazendeiro. A tradição conta que os povos a utilizavam como se tivessem enforcando o opressor.
As canções entoadas refletem o cotidiano dos compositores. Talvez seja esse o motivo para a sintonia com a multidão que segue a banda pelas ruas da comunidade: a identificação.
Seu Aílson canta com orgulho um jongo criado quando visitou o Rio de Janeiro. O artista conta que se inspirou no teleférico do Pão-de-açúcar, no agito do oceano e na animação das pessoas para criar sua música. Foi feito na hora e, segundo ele, fez a festa bailar a noite inteira.
“No balão das meninas, queria eu me apanhar pelo tombo da areia, no balanço do mar”, cantou uma palhinha para a nossa equipe.
Os mestres da banda entendem a importância do ritmo para a construção de identidade das gerações atuais e para que as histórias e o orgulho da cultura dos antepassados e de Araçatiba sejam perpetuadas e valorizadas.
“Para nosso congo permanecer enraizado em nossa comunidade e em nossos corações, precisamos da ajuda de todos. Eu e Ademir não vamos conseguir manter sozinhos, por isso incentivamos os jovens a continuar deixando o fogo da nossa cultura queimando, sem nunca se apagar”, finalizou seu Ailson.
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Texto: Kaio Torres
Publicado em quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023