Três floradas em menos de um ano: lúpulo vianense quebra paradigmas

Foto: Victor Andrade

O lúpulo de Viana tem quebrado paradigmas levantados sobre a produção da espécie. O sucesso da iniciativa se torna evidente na terceira florada da planta em menos de um ano, o que não acontece nos maiores produtores mundiais. Acreditava-se que a planta tinha melhor facilidade de adaptação em territórios temperados, ou seja, em países frios como a Alemanha e os Estados Unidos, que representam um percentual entre 75% e 80% do que é gerado no mundo. Isso tem sido desmistificado a partir do cultivo da planta no Brasil, território com clima tropical.

Plantado entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022, em menos de um ano de estudos no Viveiro Municipal da Prefeitura de Viana, o lúpulo cultivado floresceu três vezes, em todas as estações. A primeira aconteceu entre o fim de fevereiro e começo de março; a segunda em junho; e, já no fim de outubro, percebe-se o surgimento de novos cones. O trabalho é uma parceria entre a Secretaria de Agricultura (SEMAG) e o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), Campus Vila Velha.

Esse feito muda o que se pensava, inicialmente, do cultivo de lúpulo. Segundo o professor e pesquisador do Ifes, Juliano Souza Ribeiro. Imaginava-se que o solo e a temperatura contribuíam de forma mais acentuada para o sucesso da cultura.

“Essas são as características dos países em que o lúpulo é naturalmente encontrado e que tem a maior produção. Acreditava-se que as temperaturas ideais eram as de clima frio, entre 5ºC a 22°C, o que com certeza não é a característica de Viana, que no verão capixaba ultrapassa facilmente os 30ºC. Percebemos, então, que os fatores determinantes são a quantidade de água e exposição à luz solar”, explicou Juliano.

Em países pioneiros no desenvolvimento do lúpulo, a florada acontece uma vez ao ano. Os pesquisadores explicam que o sucesso do campo experimental demonstra que não é o tipo de clima que influencia no crescimento e reprodução da planta, mas sim, o tempo em que elas ficam expostas à luz.

O lúpulo precisa de 15 a 18 horas de luz diária para ter pleno desenvolvimento. Na Europa e nos Estados Unidos, há períodos de intensa iluminação solar no verão, momento em que, devido à curvatura da Terra, os países recebem maiores estímulos solares, já que os dias são maiores que as noites. Também por esse fator, esses locais recebem pouca iluminação em outras épocas do ano. Os especialistas apontam que este é um dos fatores que faz a florada destes países acontecerem apenas uma vez ao ano.

O gerente da SEMAG responsável pelo estudo, Francisco Sizino, revelou que “o cultivo do lúpulo vianense é feito com auxílio de luz artificial em períodos noturnos para que o tempo necessário de exibição seja alcançado”. Sizino completa afirmando que a próxima colheita, a chamada safra principal, está prevista para acontecer entre o meio e o fim do verão.

A finalidade do cultivo experimental de mudas de lúpulo é a implantação do Polo de Cervejas Artesanais de Viana, o primeiro polo público do país com objetivo de fomentar o turismo sensorial e a produção da cerveja artesanal completamente vianense. 

 

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Texto: Israel Magioni e Kaio Torres

Publicado em segunda-feira, 14 de novembro de 2022

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