Com uma oração do “Pai Nosso” no início das aulas, na hora da merenda e ao final, na despedida dos alunos para casa, a professora Sonia Cristina Santos Couto Valcher, efetiva da rede municipal de Viana, mostra o carinho e o cuidado que ela tem com seus alunos.
A professora é lotada na escola do Campo EMUEF “Aila Paiva Lube”, localizada em São Paulo de Cima, região rural de Viana. Neste Dia dos Professores, contamos a trajetória dela, como homenagem a todos os professores de Viana que diariamente se dedicam para fazer da educação um mecanismo de transformação na vida de mais de 13 mil estudantes da rede pública vianense.
Em 1993, Sonia recebeu um convite para dar aula na referida escola. De início, ela conta que ficou apavorada. “Eu apenas tinha o curso Técnico em Serviços Bancários, quando ainda morava na zona urbana, antes de me casar. O magistério, até então, não estava em meus planos. No entanto, como sempre gostei de desafios, resolvi aceitar, já que na época não era exigido o magistério em locais de difícil acesso”, disse.
Mas ela não desistiu, e enfrentou o desafio com a cara e a coragem, e sem nenhuma experiência. Com dois livros integrados da antiga 3ª e 4ª séries, doados por uma professora e um caderninho, onde ela fazia seus planos de aula, Sonia começou a lecionar em uma turma multisseriada, com mais de 20 alunos, que na época compreendia de 1ª a 4ª, uma turma antes considerada “agitada” e “sem limites”.
“As dificuldades eram imensas. A escola não dispunha de energia elétrica, o espaço físico sofria pela ação do tempo. Em diversos momentos, colocávamos areia nos buracos do piso para podermos nivelar as carteiras dos alunos. Sem falar nas infindáveis goteiras nos dias de chuva. Os materiais didático-pedagógicos eram escassos. No entanto, as dificuldades só aumentavam minha vontade de colocar um brilho no olhar de cada criança, que via, em mim, uma esperança de mudança”.
Além dessas dificuldades, a professora conta que por muitas vezes bateu de porta em porta nas livrarias pedindo livros e em bancos pedindo folhas usadas para poder preparar as atividades aos alunos, com o auxílio de um antigo mimeógrafo. “Foram dias difíceis, porém, repletos de histórias. O percurso até a escola era feito a pé, com chuva ou com sol. A criançada ia se divertindo enquanto eu cantava cantigas para que o caminho se encurtasse logo”, relembra Sonia.
O tempo passou. Sonia obteve formações e a experiência começou a aflorar. A escola foi reformada e a necessidade de uma habilitação se fez necessária. Em 1996, ela ingressou no curso de Habilitação para o Exercício do Magistério, formando-se na última turma da escola Nelson Vieira Pimental (Nevip) em 1999. Na época, como não havia transporte escolar, ela se aventurava em um velho fusquinha, e ainda levava com ela três adolescentes para que continuassem seus estudos.
Em março de 2006, ela iniciou a graduação no curso de Licenciatura Plena em Pedagogia pela Faculdade de Uberaba (Uniube). Enquanto cursava o 3° período da graduação, se inscreveu para o concurso público da Prefeitura de Viana, passando na 1ª etapa entre os 50 primeiros. No entanto, ela não pode fazer a 2ª etapa por não possuir a graduação completa, exigida na época.
Mais uma vez ela não desistiu. Sonia concluiu a faculdade em novembro de 2009, já realizando para pós-graduação em Gestão Educacional e Arte, e as concluiu com êxito.
Finalmente, em 2011, um novo concurso foi anunciado, e agora já graduada e pós-graduada, com inúmeras horas em títulos, ela obteve aprovação na 1ª fase, ficando na 11ª colocação. Na 2ª fase, em 7º lugar, e se tornou efetivada no dia 13 de julho de 2011.
“Na escolha das vagas, optei pela Escola do Campo, a mesma onde iniciei e estou até hoje. Faço o meu trabalho com prazer e simplicidade. Procuro dar o melhor de mim para o crescimento de outros. Sempre acreditei que o trabalho do professor é edificante. No entanto, é necessário olhar além e reconhecer o trabalho e a dedicação dos que ficam atrás das cortinas, nos bastidores. Refiro-me às equipes de técnicos e formadores da Secretaria de Educação que nos dá todo o suporte do qual precisamos. Elas ficam na retaguarda orientando-nos, motivando-nos, cuidando para que tudo dê certo, atuando como verdadeiras parceiras. São profissionais que se dedicam para tornar o nosso trabalho eficaz”, relata.
A escola onde a professora dá aulas dispõe hoje de um espaço externo invejável, onde se pode desfrutar, com os alunos, momentos que, certamente, ficarão registrados em suas memórias. Além de ter excelente acervo literário que desperta o querer ensinar e o querer aprender, o local possui materiais didático-pedagógicos e todo o apoio técnico necessário para motivar, pensar na prática e buscar metodologias diferenciadas, para proporcionar a aquisição de novos saberes.
Mais de 100 alunos entre a alfabetização e reforço já passaram pela sala de aula de Sonia. Muito deles saíram do campo, estão em cidades vizinhas. Alguns são empresários, outros optaram pela carreira acadêmica.
“Para finalizar, eu gostaria de dizer eu não me esquivo e que tenho no peito as marcas da minha história que foi e ainda é construída por muitas mãos. Neste dia tão especial, sinto-me lisonjeada em poder representar não só os professores do campo, como também, todos os profissionais da educação do município de Viana. Se me perguntarem quem sou, direi sempre: sou mulher! Sou mãe! Sou PROFESSORA, SIM, COM MUITO ORGULHO!”, finaliza Sonia.
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Texto: Tainá Campos
Publicado em sexta-feira, 15 de outubro de 2021
Atualizado em sexta-feira, 15 de outubro de 2021